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Crise das matérias-primas pode estar a agravar desvio de equipamentos eléctricos usados

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A crise das matérias primas no mercado internacional pode estar a agravar o fenómeno de desvio de materiais dos equipamentos eléctricos usados. O problema do fornecimento de materiais, que começou a sentir-se durante o auge da pandemia, intensificou-se depois da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, já que estes dois países são também grandes fornecedores de matérias primas, incluindo metais.

Alguns dos materiais que compõem os equipamentos eléctricos, como o alumínio ou o cobre, são valiosos e estão a ser cada vez mais procurados nos circuitos informais. O problema é que estes equipamentos usados têm também componentes perigosos. Ao serem desviados das unidades de reciclagem, que garantem a sua descontaminação, estes equipamentos eléctricos são transformados em sucata metálica, em processos que não acautelam a protecção da saúde humana e do ambiente.

Nos últimos dois anos, o Electrão seguiu o rasto de um total de 104 electrodomésticos usados, colocados na via pública e circuitos municipais para posterior recolha por parte dos serviços municipais. Em cada um dos aparelhos foi instalado um GPS, os equipamentos foram distribuídos por 33 concelhos e 10 distritos e o seu percurso foi monitorizado em tempo real.

A monitorização dos GPS permitiu concluir que 75% destes equipamentos vai parar ao mercado paralelo. A esmagadora maioria dos equipamentos usados foi detectada, via GPS, em locais onde não existem operadores de gestão de resíduos licenciados para descontaminar e reciclar estes equipamentos. Há ainda situações de equipamentos encaminhados para operadores licenciados depois de terem seguido um percurso alternativo com passagem por casas particulares e outros locais que não estão associados à gestão de resíduos. Apenas cerca de 25% dos aparelhos integraram o circuito formal e foram encaminhados para unidades licenciadas para a reciclagem destes equipamentos.

O Electrão optou por monitorizar as tipologias que são mais procuradas pelo mercado paralelo, dado o valor dos seus componentes, como é o caso de frigoríficos, torres de computadores, máquinas de lavar e fogões.

A lista dos equipamentos desviados e respectivos destinos foi comunicada à Inspecção Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (IGAMAOT), a entidade responsável pelas acções de fiscalização, de forma a possibilitar a identificação dos agentes e circuitos do mercado paralelo.

A monitorização de equipamentos eléctricos usados via GPS é uma iniciativa do Electrão que arrancou com o projecto “WEEE-Follow” em 2020. Na primeira fase do projecto, que decorreu entre 2020 e 2021, foram distribuídos 73 GPS em 12 dos concelhos mais populosos das áreas de Lisboa e Porto. A análise dos percursos permitiu concluir que 3 em cada 4 equipamentos usados (75%) foram desviados para o mercado paralelo.

A iniciativa do Electrão inspirou depois um projecto de âmbito nacional que serviu de base à campanha nacional de fiscalização, dinamizada com o envolvimento das autoridades ambientais e das restantes entidades gestoras.

Nesta segunda fase do projecto, que decorreu entre Dezembro de 2021 e Março deste ano, o Electrão distribuiu 31 GPS em 27 concelhos, maioritariamente fora dos grandes centros urbanos. Os resultados confirmaram a mesma tendência. A amostra é menor, mas permitiu concluir, igualmente, que a maioria dos electrodomésticos deixados para recolha na via pública e circuitos municipais continua a ser desviada. O flagelo do mercado paralelo também se regista em zonas mais interiores do país. Em 31 equipamentos monitorizados apenas 11 terão seguido o circuito formal. Há, no entanto, zonas cinzentas já que em alguns casos os electrodomésticos foram encaminhados para espaços municipais, de onde poderiam ter seguido para reciclagem, mas perderam o sinal de GPS no local apesar de terem bateria. Pelo menos 20 electrodomésticos (65%) foram desviados.

“O problema do mercado paralelo é um fenómeno que não é novo, o Electrão já o sinalizou na ‘Agenda Nacional dos Eléctricos’. O crescimento desta realidade vem dificultar o cumprimento da missão do Electrão e também os resultados de reciclagem a nível nacional”, alerta o CEO do Electrão.

Pedro Nazareth considera que para que Portugal possa atingir as metas nacionais, muito ambiciosas, é necessário apostar em acções concertadas que visem o reforço da fiscalização de forma a minimizar o impacto do mercado paralelo na reciclagem de equipamentos eléctricos usados.

A recolha de equipamentos eléctricos usados porta-a-porta, um esforço que o Electrão já está a fazer em alguns pontos da Área Metropolitana de Lisboa, em complemento com a recolha municipal na via pública, é uma medida em que o Electrão está a apostar para tentar minimizar este fenómeno.

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